terça-feira, 26 de fevereiro de 2013


Se poesia é voar fora da asa, me deixa ser a asa da poesia

É a proposta do álbum “Crianceiras”, que mistura poemas de Manoel de Barros com a música de Marcio de Camillo

Bruna B. da Luz

Eu aprendi a gostar de poesia ainda bem criança, e foi com música. “E agora José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu a noite esfriou”, cantava a voz rouca de Paulo Diniz, representando Carlos Drummond de Andrade. Lembro, como se fosse hoje, dos pôsteres fixados na sala pequena de quatro paredes, o reduto musical de meu pai. Aí ele me contou, como se eu fosse entender (e eu era criança e entendia tudo), que aquele poema musicado era a história de nossas vidas. Não porque o “mar secou”, tampouco porque “Minas não há mais”, mas pelo simples fato de que em um dia, ouvir esta música o fez tomar a decisão que tornou possível “abrir a porta”, onde o momento apresentava a inexistência de uma. E foi assim que eu tive a graça de saber apreciar a sabedoria do meu pai, José, desde muito cedo.
“Estamos em pleno mar”, assim começa o meu segundo amor a um poeta. Logo por ele, um poeta de tantos amores. Navio Negreiro, de Castro Alves, ganhava um rodar de saias na voz de Caetano Veloso. Depois dele veio “O Laço de Fita”, “O Adeus de Tereza” e tantos outros mais, mas dessa vez embalados pelo singular silencio da biblioteca vazia. Aí, em um belo dia eu virei mais feliz. Conheci mais um poeta através da melodia, e não há de existir maneira mais prazerosa. Marcio de Camillo fez a graça de montar um álbum, destinado às crianças, todinho com poemas de Manoel de Barros. E como é doce!
Foi com uma conversa gostosa que conheci Marcio de Camillo, e foi ouvindo, com calma em uma noite tranquila, um álbum de dez faixas que conheci Manoel de Barros. O ‘Crianceiras’ foi lançado ainda no ano passado. Nele, Márcio e mais 15 crianças interpretam poemas musicados do poeta contemporâneo, nascido em Cuiabá há um pouco mais que 96 anos. Já fazia tempo que essa ideia retumbava na cachola de Marcio, que aos 20 anos teve a oportunidade de conhecer o poeta. Mas o músico achava que precisava amadurecer profissionalmente para isso. E foi na casa de Manoel que ele conheceu sua atual esposa, que foi quem o encorajou a retomar o projeto. A partir daí, não foi só pegar a poesia e por uma musiquinha de fundo, Marcio queria mais do que isso. Por este mesmo motivo, o projeto que iniciou em 2007, foi lançado só no ano passado. Foi feito tudo assim, sem pressa, esperando a inspiração chegar. Algumas faixas são a junção de vários versos, outras unem poemas diferentes em uma só canção, outras apresentam o poema como ele é.
O resultado desse trabalho é “mágico”. Esse termo foi utilizado várias vezes ao longo da minha conversa com Marcio, que apresentava nitidamente na voz o amor pelo trabalho desenvolvido. A magia está no simples aproximação da criançada com o universo poético de Manoel da Barros. “Hoje o bisneto do Manoel canta todas as canções”, contou o músico. Mas obviamente não é só a família que bate palmas para a obra. Marcio contou que nos shows toda a criançada canta as músicas do início ao fim. O sucesso pode estar no fato de que todo o desenvolvimento do CD foi acompanhado e palpitado pela sua filha, que hoje tem 14 anos, a Mariah. “Eu ia testando com ela”, relatou.
Mariah canta a faixa “Sombra boa” do álbum. Entre os outros títulos estão: Bernardo, Linhas Tortas, O Menino e o Rio, Sebastião, O Idioma das Árvores, Um Bem-Te-Vi, Se Achante, Os Rios Começam a Dormir e O Silêncio Branco. O álbum foi indicado como um dos três melhores álbuns infantis de 2012 pelo ‘Prêmio da Música Brasileira’ e estreou em formato de videoclipes no Gloob, o novo canal infantil da Globosat.  Quanto ao caráter pedagógico, este é tanto, que em sua primeira tiragem, uma cota foi distribuída gratuitamente para as escolas públicas de Campo Grande, como contrapartida sócio-cultural do projeto de incentivo a novas práticas pedagógicas e ao estímulo a leitura. O próximo passo Marcio conta que é o DVD, mas tudo isso a passos lentos. “Diz para o nosso menino ir devagar”, diz por aí, Manoel de Barros. 

“Não pare na pista, é muito cedo pra você se acostumar”

Bruna B. da Luz

Já dizia o bom e velho Raul, o Seixas. O fato é que com medo ou sem medo, com comodismo ou sem comodismo, dirigir muitas vezes é uma necessidade inadiável. E olha que eu tenho patente para falar sobre isso. O volante nunca me foi atrativo, nem no videogame, nem na vida real. Fiz 18 e nem “xô” para a tal carteira de motorista. Ano passado, já com 23 anos, o trabalho exigiu, mas ainda assim eu só pegava o carro quando não tinha alternativa. Para o meu santo comodismo, eu tenho um namorado paciente, que fazia o bico de motorista pessoal. O banco do meu carro sempre ficava ajustado ao tamanho das pernas dele, largamente maiores que as minhas. Até que surgiu a notícia de que eu viria morar em Cascavel, e que diante da minha completa solidão, meu Uninho seria um companheiro indispensável nas vias cascavelenses.
Pois bem, assumi a “boleia” e com a necessidade foi-se o medo, embora eu continue achando dirigir um tremendo saco. Fato é que, assim como eu, muita gente por aí tem medo, receio em dirigir, ou até mesmo certo comodismo por ter tido a vida toda alguém que fizesse isso em seu lugar. Realmente, comandar um veículo é um ato que exige muita responsabilidade, mas os sentimentos que bloqueiam esta capacidade devem ser resolvidos. Era nisso que a proprietária da auto escola Alerta, a Railda Souza, pensou por diversas vezes enquanto cursava psicologia. Bem como Andressa Schroder, que por sua vez concluiu a graduação e correu fazer o curso de instrutora de auto escola. Railda procurava uma Andressa, e Andressa procurava uma Railda que a contratasse. E assim se fez! Hoje a auto escola oferece aos seus alunos a opção de ter aulas com uma instrutora que além de ensinar a dirigir, prepara o aluno psicologicamente para isso.
Segundo Railda, o serviço é oferecido há mais ou menos 10 meses e não tem qualquer custo adicional. “Ajuda muito até na autoestima do aluno. Tem muita gente com medo de dirigir. Isso é comum, o que faz deste um mercado bem grande”, falou. Tanto é que a Andressa costuma trabalhar um pouco mais que os outros instrutores, e a tendência é que esse trabalho aumente cada vez mais, já que a auto escola pretende iniciar um trabalho de divulgação. Contudo, Railda afirmou que de acordo com a demanda, mais um instrutor da área da psicologia será procurado. Quanto ao público, os alunos de Andressa são na grande maioria mulheres, das mais variadas faixas etárias. “A mulher é mais sensível a traumas, absorve mais o medo do trânsito”, justificou Railda.
Leila Francisca da Silva é uma destas alunas. Ela contou que com uma psicóloga como instrutora, acaba se sentindo mais confiante. “É algo essencial, a gente fica mais seguro, mais confiante. Eu tinha muito medo, até porque é a primeira vez que eu pego um carro. Eu tinha pavor quando via ônibus, caminhão muito grande. Mas ela mostrou que é só prestar atenção e fazer tudo da forma mais correta possível que não tem problema”, relatou.
“Essa ideia me surgiu na faculdade mesmo. Eu percebia que alguma coisa poderia ser feita, que era possível juntar a psicologia com o trânsito”, contou Andressa. Ela considera o serviço oferecido por ela super importante, já que muitas pessoas chegam que amedrontadas se acalmam com as conversas. “Com calma a gente consegue fazer a pessoa entender do jeito certo, não adianta fazer nada com pressa”, afirmou. Conforme a psicóloga e instrutora a maioria dos seus alunos tem muito receio de envolver-se em acidentes, mas na medida em que desenvolvem a autoconfiança conseguem aprender com mais facilidade. Diante disso eu só consigo pensar em uma coisa: e como é que ninguém pensou nisso antes?

“Essa coisa de pele, sentida por nós, desatando os nós”

Bruna B. da Luz

Tudo começa com um barulho que se assemelha ao da broca do dentista, só que mais sonoro. Mentira, começa antes. Para cada pessoa tem uma origem diferente, para alguns no filho que nasceu, ou alguém próximo que morreu. Começa quando alguma opinião prevalece, quando algum sentimento mais forte desponta. Por fim, tudo isso é transformado em cicatriz, daquelas boas de olhar. E não é tombo, não é superfície cortante, tampouco queimadura, é tinta! Ou por melhor dizer: tinta, agulha e artista.
Os negros, escravizados aqui em nosso país, tatuavam em seus corpos orações e desenhos de caráter religioso, a título de proteção. Alguns carregavam na pele a coroa portuguesa, em agradecimento á princesa que lhes rompeu as correntes.  Eu, que deles vim, tenho uma flor de lótus para me dar elevação espiritual e uma pimenta como patuá. Como agradecimento, tenho quatro linhas de amor à minha irmã e uma foca que manifesta o meu amor à minha profissão. Assim como cada um tem uma história, cada um carrega suas próprias marcas. E desta vez voz escrevo com esta simples missão: contar a história de pessoas através dos desenhos que estampam seus corpos.
Fui logo na fonte, um estúdio de tatuagem, o Ancoras Tattoo. Lá eu aprendi uma lição valiosa, os maiores significados estão nos primeiros desenhos. Quem encara a agulha pela primeira vez provavelmente estará sendo motivado por algo deveras significativo. Os motivos são claros e evidentes, tatuagem dói e tatuagem é para sempre. Giva, que é tatuador, é um bom exemplo disso. A Tatuagem favorita dele é justamente a primeira, uma caveira, cuja “qualidade” virou motivo para brincadeira. “Já vieram falar para eu cobrir, mas eu já disse que não cubro de forma alguma!”, disse. Quanto eu pedi o porquê de uma caveira a resposta foi mais do que suficiente: “As caveiras são todas iguais. Você não as diferencia pela cor, pelo sexo. Ninguém vê se é branco, se é negro, se é homem ou se é mulher”. Outra, entre as mais antigas, traz certa nostalgia à Giva. Cinco homens em um estilo que recorda o punk estão estampados logo abaixo da caveira. “Era uma banda que eu tinha. Combinamos todos de fazer, mas como fui o primeiro, só eu fiz, porque os outros acharam que ficou muito feia”, contou enquanto ria. Quanto às demais tatuagens ele vai direto ao ponto: “O resto foi por ‘porra louquice’”.
A Jessica, que também é tatuadora, tem dois braços, um para aprender e outro para se espelhar. No esquerdo ela tem um rosto feminino na parte interna do antebraço, e outro “nas costas” da mão. Ela contou que resolveu fazer estes desenhos justamente porque queria aprender a tatuar este tipo de traço. “Eu ficava prestando atenção enquanto ele fazia e depois disso eu melhorei muito”, contou. Já o outro braço ela destina aos esboços de seu ídolo, Van Gogh.
Subindo as escadas do estúdio, encontrei Priscilla, bem no momento da dor. Ela estava tatuando um mago em homenagem ao seu bisavô, que faleceu há 10 anos. Ela contou que ele possuía um lado bastante místico. “Ele fazia rezas para fechar o corpo e anotava tudo isso em um caderninho”. Para ela a tatuagem fecha um ciclo. “Teve o momento de sentir saudades e agora é hora de curtir. E vou poder ter ele sempre junto a mim”, disse. Coisas que além de um tatuador, poucas pessoas poderiam fazer por Priscilla.  

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013


Menos consumo, mais igualdade e viva a ecologia!

Sempre há de ter quem precise do que você não quer mais, esta é a lógica da Grátis Feira, que será realizada neste domingo (24), no Lago

Bruna B. da Luz

Meu pai sempre me diz: “Eu não conheço nem a mim, quem dirá aos outros”. E ele tem razão. Tanto é que com o passar do tempo, com novas situações, novas experiências, a gente vai se conhecendo cada vez mais. Ou será que a gente vai mudando e se surpreendendo na medida em que os cabelos e as unhas crescem, e as costas começam a doer?  Eu mesma já tive “N” facetas. Já usei calças largas e blusinhas apertadas exibindo parte da barriga, pra honrar as letras de rap que eu decorava. Também já andei maquiada e de salto para agradar a minha mãe. Já usei saia longa, lenços e regata na minha época Flower Power. E hoje eu só quero é conforto, sem estampas, por favor.  A moda a gente passa e repassa de acordo com o que a gente está sendo naquele momento, de acordo com nosso estado de espírito.
Minha mãe sempre guardou suas “roupas de solteira” esperando que eu as usasse ou que talvez elas voltassem a servir. Por isso sempre tive uma ou outra peça anos 80 no meu repertório, mesmo tendo nascido em 89. Usar coisas velhas é o maior barato, pelo simples fato de que é diferente. E se exclusividade não fizesse tanto sucesso, as empresas não estariam investindo tanto na personalização de produtos. É por essas e outras que o “troca-troca” de roupas e calçados está “bombando” na internet, seja através de sites específicos, como o “Enjoei”, ou por meio de grupos do Facebook. É a adaptação dos brechós à nossa era da informação digital. Aqui em Cascavel, por exemplo, a mulherada (elas é que estão comandando esta nova moda) está criando diversos grupos onde diariamente compram o que não tem nas lojas e vendem aquilo que não lhes serve mais, seja por gosto, seja por tamanho. É muita peça diferente e tudo a um precinho bem camarada, basta não ter problema em usar usados.
Mas mais legal que isso, é uma ideia que surgiu aqui em Cascavel, a Grátis Feira. Lá o princípio é o mesmo, se desfazer do que não usa mais e ter acesso a coisas que precisa. Só que neste grupo do Facebook nada é trocado, nada é vendido e nada é comprado. Tudo funciona na lógica da doação. Vale tudo, livro, móveis, roupas, sapatos e até bichinhos de estimação. Além do grupo na rede social, a Grátis Feira também é realizada de forma presencial. No próximo domingo (24) vai ser um destes dias. A feira vai ser realizada no Lago e para participar basta ir até lá. Se você tem coisas para doar, leve. Se você quer dar uma olhada e até levar para casa alguma coisa que precisa, é só chegar.  A feira pode ser “chamada” por qualquer pessoa e em qualquer lugar. Mariana Sosnowski, já chamou duas feiras, e está envolvida na de domingo. Ela contou que o objetivo é realizar estas feiras todo o último domingo do mês, mas para isso precisa da colaboração de São Pedro. “Se chover a feira será automaticamente cancelada”, explicou. O evento terá início às 16h e deve seguir até o anoitecer.